Do G1 - O fotógrafo pernambucano Cláudio Kennedy da Silva Queiroz, de 42 anos, pedalou 2,9 mil quilômetros para visitar parentes em Araraquara (SP). O ciclista saiu de Afogados da Ingazeira (PE), no sertão pernambucano, em 15 de abril e foi recebido na noite de 8 de maio por vários primos na entrada de Araraquara, após 24 dias de viagem. Após passar uma semana com a família, ele retorna a Pernambuco de avião na tarde desta quinta-feira (17).
Na viagem a São Paulo, Kennedy fez questão de aumentar o percurso em mais de 400 quilômetros para poder passar em Aparecida do Norte (SP) para visitar a Basílica de Nossa Senhora Aparecida.
“Eu quis agradecer porque consegui na minha vida esse ano duas vitórias com os meus filhos. Um passou no vestibular para direito e o outro tornou-se militar, era um sonho para mim, eu lutei por isso, eu pedi muito a Deus”, contou.
Ele conta que chegar a Aparecida foi a parte mais emocionante da viagem. "Eu chorei muito. Lembrei da minha mãe, que já é falecida, mas que era muito devota, lembrei muito dos meus filhos, da família, da minha namorada, de todo mundo”, diz.
Família unida
A família Queiroz é muito grande e, na década de 1970, foi separada em um lado paulista e um lado pernambucano. O tio de Kennedy se mudou para Araraquara e chamou os irmãos. Um dos que aceitaram foi o pai de Kennedy, que chegou a ficar por um ano, mas não se adaptou e voltou para Pernambuco.
A família voltou a se reunir em 2008 quando uma das primas de Araraquara se aposentou e viajou até Afogados para rever os parentes. Desde então, Fátima Queiroz tem ido anualmente para Pernambuco.
Aprendizado no caminho
Kennedy pedalou uma média de 120 km por dia. Geralmente, começava às 5h e parava às 14h, lutando consigo mesmo para vencer os percursos, alguns difíceis como as montanhas de Minas Gerais.
Como combustível Kennedy usava a falta de confiança de algumas pessoas na sua conquista. “O que mais me fortalecia eram as críticas negativas. Quando a pessoa diz que eu não sou capaz eu provo que sou capaz”.
Ao longo da viagem ele passou por seis estados e conheceu muita gente que o ajudou, mas também teve decepções. “Eu fui muito recriminado. Você está em uma bike e quando chega para se alimentar em algum lugar ou para dormir, eles olham para você como um peregrino, um esmoler”, contou.
O momento mais dolorido aconteceu ao ser rejeitado por um conterrâneo que tinha uma pousada na Bahia. “Isso nunca vai sair de mim. O apelido dele era ‘Pernambuco’ e eu fui humilhado por ele. Eu queria um quarto para dormir e ele negou porque eu disse que iria colocar a bicicleta dentro do quarto. Ele pegou o dinheiro balançando na minha frente e falou ‘vai embora daqui’.
"Isso me marcou muito. Eu disse para ele que ele não era de Pernambuco porque o povo do meu estado é muito acolhedor. E que ele não tinha direito de usar o nome de Pernambuco”, disse.
Esses acontecimentos e a constante superação durante a trajetória fizeram com que o fotógrafo aprendesse muito sobre si mesmo e também sobre as pessoas.
Kennedy volta para Pernambuco a tempo de comparecer na formatura do filho como militar em Recife e já decidiu a próxima viagem. No ano que vem ele quer fazer esse mesmo percurso, só que de carro e com uma decisão: “Quando eu ver essas pessoas na estradas eu vou parar para ajudar”, afirma.
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